domingo, 27 de fevereiro de 2011

A FORÇA DO SERTANEJO !!


Agricultor alagoano deixa o corte de cana para se dedicar à música

Nelson do Santos virou um rabequeiro respeitado até por estudiosos.
Instrumento rústico lembra o violino.

Do Globo Rural
Antes de ficar conhecido por conta de sua rabeca, o alagoano Nelson dos Santos trabalhou nos canaviais de Marechal Deodoro, em Alagoas. Das lembranças sobre aquele tempo, quando seu instrumento de trabalho ainda era o facão, ele ressalta o dia-a-dia sofrido na época da colheita. “Se fosse cana crua eu voltava melado, todo cheio de pelo. E quando era queimada ainda era pior. Precisava tomar dois, três banhos para sair o carvão quando chegava em casa. Era um trabalho pesado. Eu não tenho saudades deste tempo não”.
Assim como acontece com outros rabequeiros, para ser músico, Nelson da Rabeca teve que fabricar seu próprio instrumento, como conta a violinista Catarina de Labourê. “A história do seu Nelson, eu acho que merece um filme, porque com 52 anos, pai de dez filhos, ele encontra, se depara, com uma televisão, com um violino e aquele momento ele se sentiu iluminado como se Deus tivesse falando para ele, que aquela era a forma que ele tinha para manter a família dele. O jeito do seu Nelson também tocar é muito dele. Ele se inspirou no violino, no violinista que estava tocando, mas ele buscou a anatomia do corpo dele, corcundo do corte mesmo, para poder adequar aquele instrumento.”
O jeito do músico de fabricar a rabeca chamou a atenção do maestro José Eduardo Gramani, músico de formação erudita, que se encantou pelo instrumento nos últimos anos de sua vida. Nelson ganhou até um perfil escrito pelo maestro no livro “Rabeca, o sonho inesperado”.
O puxadinho no fundo de sua casa é o local onde Nelson constrói suas rabecas. As mãos de músico dão lugar às mãos de artesão, com o uso do enxó, uma ferramenta que parece uma enxadinha e o facão do corte da cana. “A medida, eu meço na mão. O comprimento, dois palmos e um pouquinho, às vezes, é menos de dois palmos. É tudo a olho, então não tem uma rabeca igual a outra. O som é diferente. A madeira é da fruta-pão, é que o povo aqui de Alagoas planta nos quintais. Ela bota aquela fruta do tamanho de um coco. Quando ela está muito velha, ele derruba. Tem vez que eu compro e outras eles me dá. Então eu faço a rabeca.”
Para ele, rabeca boa é rabeca bem cavada, ajustada. “Se deixar ela plana, o som fica preguiçoso para sair. Se deixar ela toda assim, com o bojo para frente aí o som é muito.”
Quem olha uma rabeca pela primeira vez pode imaginar que ela não passa de um violino rústico, mal acabado. E olha há até um certo parentesco entre os dois. Mas a rabeca, hoje, é considerada um instrumento com identidade própria, seja por suas características de som, pelo jeito de tocar e até por não respeitar nenhum padrão no seu formato.
Aproveitando a rabeca na mão não demora para Nelson mostrar uma música chamada silence. “Essa música toca nos dedos quase todos. E tem música que descansa o dedo de um para o outro, né. E essa tem que tocar os dedos quase tudo de uma vez só. Então é mais difícil essa.”
A música silence foi parar no repertório de um doutor em rabecas, Luis Fiamings, da Universidade Estadual de Santa Catarina, em Florianópolis. Os dedos ágeis do profissional e a gravação da música no estúdio revelam a qualidade de som que este instrumento é capaz de produzir. “Essa rabeca o seu Nelson me deu de presente, eu tenho muito orgulho de tê-la. Diferente do violino que é padronizado, a rabeca cada um tem uma

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