quinta-feira, 17 de março de 2011

SUBSTITUTOS OU SUPLEMENTOS DE COLOSTRO !

Substitutos ou suplementos de colostro para bezerros leiteiros Carla Maris Machado Bittar


O banco de colostro é, sem dúvida, a melhor estratégia para garantir suprimento de colostro de boa qualidade em volumes adequados para bezerros recém-nascidos. No entanto, no final dos anos 80 surgiram os primeiros suplementos de colostro como produtos comerciais nos EUA. Esta demanda por produtos que pudessem suplementar ou até mesmo substituir o colostro se deveu a dificuldade de algumas propriedades em manejar o banco com colostro de boa qualidade e em volume suficiente. Além disso, muitos produtores americanos descartam colostro de vacas positivas para doenças como Mycobacterium avium ssp. paratuberculosis, leucose bovina viral, ou mastite por Mycoplasm bovis. Assim, os substitutos são hoje uma alternativa ao colostro materno e também uma ferramenta de auxílio na prevenção de doenças transmitidas por colostro.



Segundo Quigley et al. (2002), os suplementos de colostro são produtos com o objetivo de fornecer < 100g de IgG/dose, não sendo recomendados para substituir o colostro; por outro lado, os substitutos de colostro contém >100 g IgG/dose e fornecem outros nutrientes exigidos pelo neonato. As fontes de IgG nos suplementos e substitutos são basicamente secreções lácteas (colostro e leite), sangue e ovos; no entanto, o uso de IgG proveniente de colostro e de sangue tem maior especificidade e são mais adequados para a produção de produtos comerciais. A literatura traz diversos trabalhos de pesquisa com teste de produtos comerciais, sejam eles suplementos ou substitutos, avaliando doses e método de fornecimento.



Boa parte da literatura apresenta dados de baixa absorção de IgG a partir de suplementos de colostro. No entanto, em alguns destes trabalhos um produto considerado como suplemento foi utilizado como substituto do colostro materno. Outro aspecto importante é que a fonte de IgG e o método de processamento destes produtos podem alterar a absorção e a meia vida de IgG. Normalmente a absorção de IgG de suplemento de colostro formulado a partir de secreção láctea é baixa; enquanto que em suplementos formulados a partir de proteína sérica é superior e similar aquela observada em colostro materno.



No trabalho de Quigley et al. (2002), avaliou-se a absorção de IgG em bezerros alimentados com substitutos ou suplementos de colostro, contendo 11,1 e 21,2% de IgG na matéria seca, respectivamente. Os animais receberam duas doses de cada um dos produtos 1 e 8h após o nascimento, o que representou um consumo de 95 e 187 g de IgG para animais recebendo suplemento ou substituto de colostro, respectivamente. Os autores observaram eficiência aparente de absorção de IgG similares entre os tratamentos, em torno de 30%. Interessante que estes valores são também observados com o fornecimento de colostro. No entanto, observou-se que a redução na concentração plasmática de IgG durante as primeiras 24h foi superior a queda na concentração de proteína total, sugerindo que proteínas não-imunoglobulinas são metabolizadas por animais colostrados com suplementos ou substitutos.



Outros trabalhos confirmam este dado e, assim, sugere-se que em animais colostrados com produtos comerciais, a avaliação da adequada transferência de imunidade passiva através de refratômetro seja realizada com cautela. O uso do refratômetro para avaliação da aquisição de imunidade passiva vem crescendo nas propriedades leiteiras, sendo uma excelente ferramenta de manejo (para mais detalhes sugere-se a leitura do radar técnico de 23/06/2010).



Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Minnesota (Swan et al.,2007) realizou um importante estudo com 12 fazendas americanas, avaliando a transferência de imunidade passiva de 457 bezerras holandesas colostradas com substituto de colostro formulado a partir de plasma bovino (Acquire, American protein Corporation). Os bezerros receberam colostro materno ou uma dose de substituto de colostro que continha 125g IgG/dose, o qual foi diluído em 2L de água morna, sendo o manejo de colostragem de cada fazenda (tempo para o primeiro fornecimento, volume do primeiro fornecimento, método de fornecimento, fornecimento ou não de segunda refeição) mantido.



Os autores observaram menores concentrações de IgG e proteína total em bezerros colostrados com o substituto de colostro em comparação aqueles que receberam colostro materno. A diferença observada foi atribuída pelo menor consumo de IgG em bezerros colostrados com substituto de colostro, mesmo em propriedades que fizeram o fornecimento de uma segunda dose de substituto de colostro (45g IgG). Assim, o fornecimento de substituto de colostro (170g IgG, na melhor das hipóteses) não foi suficiente para resultar em adequada aquisição de imunidade passiva.



Por outro lado, no trabalho de Jones et al. (2004), o mesmo substituto comercial, agora fornecido em duas doses após o nascimento (total de 249 e 186 g de IgG para animais holandeses e Jersey, respectivamente) resultou em concentrações de IgG sérica similares aquelas observadas com o fornecimento de colostro materno. Outros trabalhos com substitutos também mostram a possibilidade de transferência de imunidade passiva adequada quando maiores doses de IgG são fornecidas. O trabalho de Hammer et al.(2004) no entanto, já havia sinalizado o fato de que a absorção de maiores quantidades de IgG em uma única dose é superior a absorção da mesma massa de IgG dividida em duas doses.



Embora estes produtos comerciais ainda não estejam disponíveis no Brasil, um importante aspecto será o custo dos mesmos. Mesmo com o custo associado a formação de banco de colostro, com coleta, avaliação de qualidade e armazenamento em freezer, é pouco provável que este seja superior ao custo de substitutos ou suplementos de colostro. No entanto, uma vez que existe um aumento na preocupação com controle de doenças e redução no uso de antibióticos na produção animal, é possível que os benefícios destes produtos paguem esta diferença. É esperar pra ver
 
FONTE: MILK POINT

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