domingo, 5 de junho de 2011

A influência do sombreamento artificial no desempenho de novilhas leiteiras em pastagens




Já é de conhecimento de todos que o estresse térmico pode causar sérios prejuízos em sistemas de produção, principalmente na atividade leiteira. E talvez por isso tornou-se um assunto que vêm ganhando espaço entre pesquisadores, técnicos e produtores (existem artigos relacionados com este tema nos radares de sistemas de produção de dezembro de 2007, janeiro, fevereiro e março de 2008).

Há vários trabalhos que mostram queda de produção, alterações na composição e qualidade do leite, porém há poucos trabalhos que avaliam os prejuízos do estresse térmico em animais em fase de crescimento, e ainda que comparem diversos tipos de sombreamento artificial. Neste sentido, o NUPEA (Núcleo de Pesquisa em Ambiência) da ESALQ-USP, desenvolveu um trabalho para avaliar a influência de diversos tipos de sombreamentos artificiais no desenvolvimento de novilhas leiteiras.

Para se determinar o efeito da sombra, foram avaliados três tipos de telhados utilizados como cobertura nas estruturas de sombreamento. A seleção dos materiais de cobertura deu-se em função da predominância de utilização no meio rural. Os tratamentos comparados nesta pesquisa foram: testemunha (sem sombreamento), com sombreamento de telhas de fibrocimento sem cimento amianto e sem pintura, telhas galvanizadas e tela de polipropileno 80%.

As dimensões dos abrigos foram de 2m X 4m e 4m2 de altura e cada abrigo era utilizado simultaneamente por 2 animais (parcela), resultando na disponibilidade de 4m2 de sombra por animal. Com relação a altura, 4 metros de pé direito é considerado alto em relação aos demais experimentos que encontramos na literatura, mas segundo Maristela Neves da Conceição, autora do trabalho, os outros experimentos não utilizavam telhas galvanizadas e para homogeneizar todos os tratamentos, optou-se pela altura de 4 metros. Foram utilizadas 16 novilhas da raça Holandesa e 16 novilhas cruzadas Jersey x Holandês. A idade e o peso médio dos animais foram 17 meses e 265 kg de peso vivo respectivamente.

Dentre outros itens avaliados, foram registradas semanalmente as frequências respiratórias (FR), as temperaturas reais (TR) e as temperaturas de pelame (TP) dos animais. A FR é o primeiro sinal fisiológico visível em animais com estresse térmico. Neste trabalho, os valores de FR foram menores nos animais que permaneceram sob telha de fibrocimento e semelhantes entre as telhas galvanizadas e a tela (tabela 1).

Tabela1. Resultado da comparação de médias para frequência respiratória (FR) obtidas nos três períodos analisados.



Com relação a temperatura retal (TR), não houve diferenças entre os tratamentos nos dois primeiros períodos. No terceiro período, os valores de TR obtidos no tratamento de fibrocimento foram semelhantes aos obtidos com a tela, porém diferente dos valores encontrados no tratamento de telhas galvanizadas. Todos os tratamentos , no entanto, apresentam valores de TR semelhantes à testemunha (tabela 2).

Tabela 2. Resultado médio e comparação de médias da TR entre os tratamentos nos três períodos estudados.



A pele do animal é o principal órgão responsável pela percepção e pelas trocas de calor entre o animal e o meio ambiente. Os resultados das comparações de médias entre os tratamentos mostraram que no primeiro período houve diferença na temperatura do pelame (TP) dos animais testemunhas e dos alojados no tratamento com fibrocimento. Porém não foram verificadas diferenças entre o tratamento testemunha e os demais tratamentos (Tabela 3).

Tabela 3. Resultado médio e comparação de médias da TP entre os tratamentos nos três períodos estudados.



Não foram observadas alterações comportamentais entre os tratamentos, os animais ficaram sob as sombras nas horas mais quentes do dia, preferencialmente em pé, e o comportamento diário seguiu os padrões conhecidos para bovinos.

Com relação a análise de custo (Tabela 4), a cobertura com tela foi a mais barata, porém, como demonstrado na pesquisa, a cobertura com fibrocimento apresentou os melhores resultados quanto ao conforto térmico e foi a que ocasionou as maiores reduções na FR das novilhas, desta forma seria a mais interessante para a utilização como abrigo para novilhas. Nos cálculos de custo não foram computados mão de obra, pois em geral a mão de obra utilizada é da própria fazenda, no entanto, se forem computados, seria ainda mais interessante utilizar fibrocimento, pois este apresenta maior vida útil.

Tabela 4. Relação de custos dos abrigos para o sombreamento de 30 novilhas.



A pesquisa indicou haver melhora no bem estar térmico das novilhas, porém não conseguiu determinar ganhos efetivos na utilização da sombra. Vale lembrar que o experimento foi conduzido em Piracicaba-SP. As coordenadas geográficas do município são: 22º43' de latitude Sul, 47º25' de longitude Oeste e 580 metros de altitude e o clima da região é classificado como mesotérmico úmido, subtropical de inverno seco, denominado Cwa, com temperaturas médias inferiores a 18ºC nos meses mais frios e superiores a 22ºC durante a estação mais quente do ano.

Para que diferenças em desempenho animal como o ganho de peso, produção de leite ou desenvolvimento de novilhas sejam detectadas, mais pesquisas como esta devem ser realizadas em outras regiões do país que apresentem maiores desafios climáticas aos animais.


Fonte: Milk Point

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