sábado, 24 de setembro de 2011


Como combater o carrapato em bovinos de leite

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images73Quando um produtor percebe que seus animais estao altamente infestados por carrapatos, imediatamente pensa nos prejuízos acarretados e resolve tomar providencias. E entao inicia-se uma jornada de escolher um produto e realizar uma infinidade de tratamentos, muitas vezes sem obtençao de resultados satisfatórios.Na ânsia de resolver o problema, troca-se indiscriminadamente de produto, o que só vai agravar ainda mais a situaçao. Em conseqüencia disto, perde-se anualmente no Brasil cerca de dois bilhoes de dólares. O problema é realmente complicado e grave, mas nem por isso a soluçao deve ser complexa. Basta que se tenha em mente que muito do que se perde com o carrapato decorre dos erros cometidos na tentativa de controlá-lo. Para minimizar os prejuízos, portanto, é importante conhecer bem o inimigo e identificar e corrigir os principais erros cometidos.
1)A vida do carrapato
Os bovinos adquirem o carrapato quando caminham por uma pastagem infestada. As larvas, que sao os “filhotes” dos carrapatos, sobem no animal e procuram um local adequado para se fixar. É o início da fase parasitária, ou fase em que o carrapato permanece fixado ao animal, que dura em torno de 22 dias. Neste período, as larvas se alimentam e se transformam em ninfas que, posteriormente, darao origem aos adultos, que irao sugar sangue e acasalar. A femea fecundada se enche de sangue e abandona o hospedeiro, iniciando a fase nao-parasitária ou de vida livre. No solo, a femea procura um local ideal para a postura de 2.000 a 3.000 ovos. Após a incubaçao, de cada ovo sairá uma larva, que irá se posicionar na ponta da pastagem a espera de um bovino, fechando o ciclo. Diferentemente da fase parasitária, que tem duraçao relativamente estável, o tempo de duraçao da fase de vida livre varia de acordo com a regiao geográfica e com a época do ano.
2) Os principais erros
2.1) A escolha do produto para combate
Que carrapaticida devo utilizar para combater os carrapatos de meu rebanho? Esta é a pergunta mais freqüente entre os produtores de leite, preocupados com os prejuízos determinados pelo carrapato dos bovinos. É importante que todos saibam que a resposta adequada a esta pergunta só pode ser obtida por meio de testes específicos. E por que deve ser assim? Se o carrapato dos bovinos pertence a uma única espécie, um único carrapaticida deveria ser eficiente, nao é mesmo? Nao, pois em cada propriedade há uma populaçao diferente desta espécie de carrapato, selecionada de acordo com os grupos químicos com os quais teve contato. Portanto, um determinado produto pode ser extremamente eficiente no combate aos carrapatos de uma propriedade e nao ser capaz de agir na propriedade vizinha. O que se deve fazer, entao? Coletar os carrapatos dos bovinos da propriedade e enviar para a Embrapa Gado de Leite, que realizará o teste gratuitamente, determinando o carrapaticida mais apropriado para agir nesse caso específico. Para garantir o bom andamento do teste, no entanto, é importante proceder da seguinte forma:
deixe dois ou tres animais sem tratamento carrapaticida por pelo menos 25 dias, se na sua propriedade é utilizado produto que age por contato (banho de aspersao) ou 35 dias, se o carrapaticida em uso é do tipo “pour on” (aplicado na linha do dorso) ou injetável. Este cuidado deve ser adotado para que os carrapatos a serem utilizados no teste nao contenham resíduos de carrapaticidas;
colete uma grande quantidade de carrapatos (por volta de 200). Só servem as femeas grandes e repletas de sangue, conhecidas popularmente como “mamonas” ou “jabuticabas”. A melhor hora para coleta é o início da manha, quando os animais encontram-se mais intensamente infestados por carrapatos com estas características;
acondicione em recipiente adequado (pote plástico ou caixa de papelao, contendo pequenos furos que possibilitem a respiraçao dos carrapatos, sem permitir a fuga destes);
identifique o material, informando nome e município da propriedade, nome do proprietário, endereço para envio dos resultados e telefone;
envie por Sedex para:
Embrapa Gado de Leite (carrapatos)
Rua Eugenio do Nascimento, 610
Dom Bosco – Juiz de Fora/MG
36038-330
É importante que o material seja enviado no início da semana (segundas, terças ou quartas-feiras) e que o tempo entre a coleta e o envio seja o menor possível. O ideal é coletar e enviar no mesmo dia mas, caso nao seja possível, pode-se faze-lo no dia seguinte, desde que se tenha o cuidado de manter os carrapatos, devidamente acondicionados, na parte inferior da geladeira. Para o envio pelo correio nao é necessário colocar gelo no material. Dúvidas podem ser esclarecidas pelos telefones (32) 3249-4829 , 3249-4840 ou 3249-4886. Após 35 a 40 dias, o produtor recebe os resultados no endereço informado. É importante ressaltar que os resultados sao válidos apenas para a propriedade de onde foram coletados os carrapatos e que o teste é gratuito. A Embrapa Gado de Leite recomenda que se realize o teste anualmente, de preferencia nos últimos meses do ano. Dessa forma, na época de implantaçao do controle estratégico, se for necessária a troca por outro carrapaticida, há resultados de um teste recente para orientar a nova escolha.
No entanto, a simples determinaçao do carrapaticida mais adequado a uma propriedade nao resolve o problema. É preciso que este produto seja bem misturado e aplicado na quantidade certa, em todo o corpo do animal, de acordo com as recomendaçoes da bula. A fim de contribuir para minimizar possíveis erros, juntamente com os resultados do teste sao fornecidas informaçoes sobre a época mais propícia para se combater os carrapatos, além de como preparar e aplicar adequadamente o carrapaticida. Associando-se estas tres medidas: determinaçao do produto apropriado e aplicaçao deste no momento certo e da forma correta, é possível manter a populaçao de carrapatos sob controle, reduzindo-se os prejuízos acarretados por este parasita.
2.2) O tratamento carrapaticida
Por motivos de economia, pressa, cansaço ou falta de orientaçao, na maioria das vezes o carrapaticida é aplicado em quantidades insuficientes, o que contribui significativamente para a disseminaçao da resistencia.
O problema começa na diluiçao do produto. Geralmente, a quantidade preconizada pela bula é colocada diretamente na bomba, seguindo-se a adiçao de água, sem diluiçao prévia. O ideal seria o preparo de uma “calda”, diluindo-se previamente a quantidade recomendada para o preenchimento de uma bomba em um balde a parte, com dois a tres litros de água. O conteúdo do balde é, entao, colocado aos poucos na bomba, adicionando-se água até completar o volume recomendado.
Após o preparo correto do produto, este deve ser aplicado adequadamente. Para tal, o produtor deve ter em mente que o banho carrapaticida é, geralmente, a única medida que se adota para combater um inimigo tao prejudicial. Portanto, o dia de banhar deve ser reservado somente para aquela prática, conferindo-se total atençao as atividades desenvolvidas. Deve-se regular a pressao do jato, que deve ser suficiente para atingir a pele do animal. O carrapaticida deve ser aplicado a favor do vento (para proteçao do aplicador) e no sentido contrário dos pelos, atingindo-se até as regioes de mais difícil acesso, como úbere, face interna das orelhas e entre pernas. Ao final do processo o animal deverá estar completamente molhado, devendo-se, para tal, utilizar de quatro a cinco litros de soluçao para cada bovino adulto. Os banhos nao devem ser realizados em horas de sol forte, para nao intoxicar os animais, nem em dias chuvosos, para evitar perdas do produto e seleçao de carrapatos resistentes.
Os cuidados a serem adotados pelo operador também sao de fundamental importância. Carrapaticida é veneno e a exposiçao contínua ao produto pode levar a danos irreparáveis a saúde humana. O uso de trajes adequados, a aplicaçao a favor do vento e o impedimento do contato direto com a pele sao fatores que auxiliam a manutençao da integridade do aplicador.
É importante, ainda, a leitura atenta da bula, com objetivo de, além de se ajustar a dose adequada, respeitar o período de carencia para garantir a comercializaçao de um leite de qualidade, isento de resíduos químicos.
A orientaçao aos produtores sobre o manejo dos animais após o banho também deve ser considerada. Equivocadamente, evita-se que os animais banhados tenham acesso a uma pastagem contaminada. O que deve ser feito é justamente o contrário, ou seja, levar os animais recém-banhados para piquetes infestados, de modo que estes funcionem como “aspiradores” das larvas, que serao combatidas no próximo banho, já na fase adulta. A repetiçao de banhos e o retorno dos animais as pastagens proporcionará a descontaminaçao progressiva destas.
2.3) O momento de banhar
A quase totalidade de produtores combate o carrapato somente nos períodos em que este se encontra em grande quantidade sobre os animais, determinando os prejuízos já relatados. Um programa de assistencia técnica seria eficiente no intuito de orientar sobre o momento certo de se utilizar o carrapaticida como uma forma de prevençao de grandes infestaçoes, ao invés de se combaterem surtos já estabelecidos. As pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Gado de Leite resultaram na elaboraçao do programa de controle estratégico dos carrapatos de bovinos de leite na Regiao Sudeste. Durante quatro anos foi acompanhado o nível de infestaçoes, tanto nos animais (fase parasitária), como na pastagem (fase de vida livre), o que possibilitou a obtençao de informaçoes úteis para a elaboraçao do programa de controle. Foi verificado, inicialmente, que o carrapato dos bovinos, na Regiao Sudeste, desenvolve de tres a quatro geraçoes durante o ano. A geraçao presente entre os meses de janeiro e abril foi considerada como a mais fraca, pois o calor excessivo mata as larvas que estao na fase de vida livre, a espera do hospedeiro, reduzindo a quantidade de carrapatos presentes nos animais e na pastagem. As altas temperaturas atuam também na aceleraçao da fase nao-parasitária, fazendo com que os carrapatos nasçam e morram mais rapidamente, contribuindo também para a reduçao do nível de infestaçoes. A partir da identificaçao desta fase mais vulnerável, foi possível a elaboraçao do programa de controle estratégico do carrapato dos bovinos leiteiros na Regiao Sudeste do Brasil (válido também para a Regiao Centro-Oeste, por apresentar condiçoes semelhantes).
Esta estratégia se fundamenta na aplicaçao de uma série de cinco ou seis banhos carrapaticidas a intervalos de 21 dias ou tres aplicaçoes de produto “pour on” a intervalos de 30 dias, durante a época mais vulnerável do ciclo do carrapato (janeiro a abril). O objetivo é combater intensamente a geraçao mais fraca, de modo a comprometer as geraçoes seguintes, que seriam as mais prejudiciais. Durante o restante do ano basta monitorar a quantidade de carrapatos nos animais e realizar banhos quando a contagem se elevar. É recomendada atençao especial ao mes de setembro, quando a quantidade de carrapatos tenderá a se elevar, pois o aumento da temperatura leva a eclosao das larvas que estavam em formaçao durante o inverno. Um banho pode ser suficiente para controlar o surto repentino. Normalmente, os tratamentos extras sao necessários somente durante o primeiro ano da implantaçao do programa, mantendo-se os níveis de carrapatos na quantidade desejada nos anos seguintes somente com as aplicaçoes efetuadas entre janeiro e abril. Uma carga parasitária entre 20 e 30 carrapatos em um lado do corpo do animal é considerada adequada para que os bovinos desenvolvam proteçao contra os agentes da tristeza parasitária. Deste modo, o carrapato, que antes era tido como um inimigo altamente prejudicial a pecuária, passa a atuar como um aliado, funcionando como um “vacinador natural” dos bovinos.
Realizando-se as açoes descritas de forma correta, é possível reduzir significativamente o número de banhos carrapaticidas, de 16 a 20, para apenas cinco tratamentos anuais. Além de representar considerável economia com a aquisiçao de carrapaticidas, esta prática leva a reduçao no estresse dos animais e nos custos com mao-de-obra, minimizaçao de resíduos no leite, elevando a qualidade e agregando valor ao produto, preservaçao ambiental e, principalmente, retardo no processo de resistencia, garantindo maior tempo de utilizaçao das poucas bases químicas disponíveis.
Uma pequena desvantagem deste programa de controle consiste no fato de que os banhos devem ser realizados na época das chuvas, o que poderia levar a perdas do produto e disseminaçao da resistencia. Este problema pode ser facilmente contornado transferindo-se os banhos para outro dia, caso o dia marcado para o tratamento esteja chuvoso, ou mantendo os animais em um galpao coberto por duas horas após o banho. Nao havendo, na propriedade, instalaçoes suficientes para abrigar todos os animais do rebanho, a separaçao em lotes proporcionará a realizaçao dos tratamentos sem transtornos.
É importante ressaltar, no entanto, que, para que o programa de controle estratégico seja bem-sucedido, tem de ser utilizado o produto certo, na dose recomendada, com diluiçao bem feita e aplicaçao adequada.
2.4) Outros erros: detecçao e correçao
No quadro a seguir sao apresentados os principais erros cometidos na tentativa de controlar o carrapato dos bovinos, bem como recomendaçoes para evitá-los e/ou corrigi-los:
PRINCIPAIS ERROS
COMO CORRIGIR
Escolha errada e troca indiscriminada de carrapaticidas. Determinar o carrapaticida ideal para cada propriedade. Teste de sensibilidade realizado gratuitamente pela Embrapa Gado de Leite.
Tratamento dos animais quando estao mais infestados. Controle estratégico: atuar preventivamente com cinco banhos nos meses mais quentes do ano.
Preparaçao errada da soluçao carrapaticida. Ler atentamente a bula do produto. Cuidados com dosagem, homogeneizaçao e períodos de carencia.
Banho mal dado. Administrar produto no sentido contrário ao dos pelos e com pressao adequada em todo o corpo animal, incluindo cara, orelhas e entrepernas.Evitar dias de chuvas e horas de sol forte.Nao banhar animais cansados.Escolher equipamento adequado ao tamanho do rebanho (bomba costal somente em rebanhos pequenos).
Tratamento “pour on” mal realizado. Avaliar cuidadosamente o peso do animal.Aplicar o produto nos locais recomendados pela bula.
Animal recém-banhado mantido longe dos pastos infestados. Após o banho, os animais devem retornar as pastagens infestadas, para que funcionem como “aspiradores” das larvas.
Mesmo número de tratamentos para bovinos de raças diferentes. Mais cuidados com animais de maior grau de sangue europeu, que sao mais sensíveis a carrapatos, bernes, verminoses e ao calor excessivo.
Mesmo número de tratamentos para todos os animais de uma mesma raça. Identificar e cuidar mais intensamente dos animais de “sangue doce”, que sao as “fábricas” de carrapatos do rebanho, ou até mesmo descartá-los.
Contato imediato dos animais recém-adquiridos com o restante do rebanho. Realizar tratamento carrapaticida e isolar esses animais por 30 dias, antes de sua incorporaçao ao rebanho.
3)Outras formas de controle
Diante do grave quadro de resistencia dos carrapatos aos carrapaticidas químicos, outras alternativas estao sendo pesquisadas e serao divulgadas a medida que sejam validadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As vacinas contra o carrapato dos bovinos já sao uma realidade. Desde a década de 90 está disponível no mercado brasileiro uma vacina cubana que tem açao sobre o sistema digestório do carrapato, matando-o ou inibindo a postura. Está em fase final de pesquisas uma vacina brasileira, com mecanismo de açao semelhante. Fungos e nematóides como controladores biológicos de carrapatos também estao sendo pesquisados, com resultados bastante promissores para uso até mesmo em associaçao com produtos químicos. Outras vertentes de pesquisas se referem ao uso de substâncias derivadas de plantas, os fitoterápicos e a formaçao de rebanhos a partir de animais que sejam comprovadamente resistentes a parasitas. Embora os resultados ainda nao sejam passíveis de divulgaçao, é importante que todos saibam que existe uma significativa parcela de pesquisadores empenhada em buscar soluçoes que contribuam para o controle de carrapatos e para a garantia de segurança e qualidade nos produtos derivados dos animais tratados
Fonte: agromundo

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