sexta-feira, 10 de setembro de 2010

INTEGRAÇÃO PECUÁRIA E LAVOURA

Um trabalho da Embrapa pode ajudar agricultores e pecuaristas a diversificar suas atividades e ainda promete resolver a falta de comida para o gado.

Nossa primeira reportagem mostra um trabalho da Embrapa que pode ajudar agricultores e pecuaristas a diversificar suas atividades. Mais que isso, promete resolver um problemão que muitos criadores enfrentam nessa época do ano: a falta de comida pro gado.

O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 200 milhões de cabeças. Um terço desse plantel está na região Centro-Oeste, que como outros lugares do país, sofre com a falta de chuva durante o inverno. Em Mato Grosso do Sul, no mês de agosto, a maior parte das pastagens de está seca. Os animais mal têm o que comer.

A situação fica ainda mais grave, nos lugares que tem pastagens antigas, degradadas, com pouca capacidade de produzir forragem. Pra tentar mudar esse cenário, a Embrapa Gado de Corte, que fica em Campo Grande, vem investindo num projeto batizado de Integração Lavoura Pecuária. O agrônomo Armindo Kichel é o responsável pelo trabalho.

“A Integração Lavoura Pecuária nada mais é que produzir na mesma área em rotação, associação ou consórcio, produção de grãos, carnes, leite. O maior problema hoje da pecuária de corte é a falta de forragem em quantidade e qualidade, principalmente de maio a outubro. Então, com a lavoura, vai potencializar a produção de pasto, recuperar a pastagem para ter uma pecuária de ciclo curto e de alta produtividade”, explica.

A Embrapa criou uma mini fazenda, de quatro hectares, pra servir como modelo. E vem trabalhando nela há quatro anos. Ela foi dividida em quatro módulos e ao longo do ano, as pastagens e lavouras vão se sucedendo lá dentro.

“Nós desenvolvemos um sistema intensivo de lavoura pecuária. Nós trabalhamos em cada área com 14 meses em pastejo e dez meses com lavoura”, declara Kichel.

De outubro a maio, durante o período das águas, metade da fazenda fica ocupada com lavoura e metade com pastagem. De maio a julho, quando as chuvas diminuem, apenas 25% da área permanece com agricultura. Setenta e cinco por cento, são destinados à pecuária. Durante a época mais seca, que vai de meados de julho até o fim de setembro, vira tudo pasto.

O segredo pro bom funcionamento do sistema está na escolha do que vai ser plantado na fazenda e no manejo correto tanto da lavoura quanto do gado.

Pra ter rentabilidade a escolha das lavouras que vão integrar o sistema também é importante. “O carro-chefe é a soja, porque é uma leguminosa muito utilizada para a recuperação das pastagens degradadas. O milho é muito usada em safrinha após a colheita da soja, em terceiro o sorgo, menos safra, mais safrinha após a colheita da soja”, explica.

A lavoura é mais exigente no preparo de solo. Precisa de uma boa adubação, correção de acidez. E isso acaba trazendo benefícios também pra pecuária.

“Áreas cultivadas com grão, com alta fertilidade, quando é formado um pasto novo, ele é de alta produtividade, qualidade, e isso aumenta muito a produtividade da pecuária de corte reduzindo muito os custos”, diz.

A rotação com pasto também é boa pra agricultura, porque interrompe o ciclo de vida de muitas pragas e ajuda a controlar as plantas invasoras, reduzindo os custos com veneno e herbicida. Além disso, o capim deixa uma boa cobertura de solo para o plantio direto, que vem depois.

Na integração, o produtor também deve se preocupar com a qualidade das pastagens pra garantir um bom ganho de peso do rebanho.

“Em fazendas em que o plantio de soja é mais tardio, que vão colher depois de março, ou regiões que não têm clima para a produção de grãos na safrinha, nós podemos formar um pasto, também chamado o pasto safrinha. Eu posso cultivar o pasto solteiro ou não e depois eu volto com a soja”, explica.

A grande vantagem é que o sorgo, próprio pra pastejo, fica pronto antes do capim, com apenas 40, 45 dias. Então, em plena seca, os animais sempre têm o que comer.

Outra idéia interessante: o plantio consorciado de milho safrinha com capim piatã. Com ele, além do grão pra vender, logo após a colheita o produtor tem uma área pronta para alimentar o gado durante o inverno. Pra entrar num sistema como esse, o agropecuarista tem que estar no lugar certo, ter conhecimento e dinheiro pra investir.

“Isso não pode ser implantado em qualquer lugar do Brasil. Os primeiros requisitos pra fazer a integração lavoura pecuária, é ter clima e solo favoráveis para grãos e conhecimento técnico, tanto do produtor como assistência técnica qualificada que entenda da integração lavoura pecuária”, informa.

“Para o pecuarista que tenha um pasto degradado e queira recuperar a pastagem com a integração lavoura pecuária, ele precisa comprar maquinários, infra-estrutura, e adequar o solo química e fisicamente. Isso hoje, em média, gasta em torno de quatro mil reais por hectare. Para o lavoureiro, ele fazer pecuária, também precisa um aporte inicial em torno de quatro mil reais por hectare para iniciar a pecuária de corte”, afirma.

Os resultados da pesquisa mostram que o investimento se paga em quatro anos. “Esse sistema tem produzido para nós, uma média de 58 sacas de sojas por hectare, uma média de 50 sacas de milho e 36 arrobas de carne. Comparativamente com a pecuária tradicional, com a produção de três arrobas por hectare, esse sistema está produzindo 12 vezes mais carne”, declara.

É bom deixar claro que este aumento expressivo na produção de carne, se deve também a boa genética e a sanidade do rebanho.

FONTE: GLOBO RURAL

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