A inseminação artificial é usada em apenas 6% das vacas no Brasil. É muito pouco! Pra se ter uma idéia, na Europa mais de 70% das vacas são inseminadas.
O Globo Rural mostrou a técnica que pode melhorar o índice brasileiro. É a IATF, inseminação artificial em tempo fixo, usada em gado de corte e de leite.
A fazenda Agrinduz fica no município de Descalvado a 250 kms da cidade de São Paulo. É a segunda maior produtora de leite do Brasil. São 42 mil litros por dia. Para tirar todo esse leite a sala de ordenha funciona 24 horas sem parar.
Ao todo são 1300 vacas holandesas em lactação produzindo média de 31 litros por animal por dia. O sistema é de confinamento e a comida é produzida aqui mesmo com grãos cultivados pela fazenda.
O sucesso do empreendimento se deve principalmente ao melhoramento genético do rebanho que começou há 31 anos com a introdução da inseminação artificial, uma técnica simples, mas que depende de um manejo prévio muito trabalhoso que é o da observação do cio das vacas. Como aqui não se usa touro, quem dá o sinal são as fêmeas.
A fazenda Agrinduz tem três funcionários encarregados de observar o cio das vacas. É por causa dessa operação complicada de ficar olhando o cio das vacas dia e noite sem parar que muitos produtores continuam usando o touro ao invés da inseminação.
Mas já existe uma técnica que permite eliminar a observação do cio das vacas e facilitar o manejo da inseminação, é a IATF (inseminação artificial em tempo fixo). Isso nada mais é que o uso de hormônios que induzem a ovulação da vaca e permitem a inseminação no dia que o produtor quiser.
Um dos hormônios é a progesterona, aplicada num dispositivo de silicone, que é introduzido na vagina das vacas. Ele é colocado dentro de uma espécie de seringa gigante, feita de pvc, e fica preso em uma cordinha para que possa ser retirado a partir do 10º dia, quando o produtor já pode fazer a inseminação, como explica o médico veterinário Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
Doutor Baruselli explicou que o sistema reprodutivo é regido por glândulas e a progesterona é um hormônio extremamente importante para fazer com que os folículos cresçam no ovário e tenham condição de ovular. O objetivo principal é ter esse processo de sincronização bem definido para que a inseminação possa ser realizada sem a necessidade de detecção do cio. Todas as vacas têm crescimento folicular e ovulação em dia e horário definidos. O hormônio utilizado não tem efeito algum sobre o leite que vai ser produzido e posteriormente sobre a saúde humana.
A aplicação da técnica da IATF também contribui para aumentar a produção de bezerros. “Temos um grupo de vacas paridas há 40, 50 dias, que já estão sendo inseminadas novamente. Isso facilita o processo e antecipa a concepção, desta forma, o custo benefício é bastante favorável”, explicou Baruselli.
Além de servir para o manejo da inseminação em gado de leite a IATF é utilizada também na criação de gado de corte. É o que o Globo Rural mostrou no município de Gaúcha do Norte, em Mato Grosso.
A fazenda Jaraguá faz cria, recria e engorda de gado nelore. Lá, o gargalo da inseminação artificial também é a mão-de-obra da observação do cio. Por causa dessa dificuldade, os técnicos pensaram até em abandonar a inseminação artificial, mas com a aplicação da IATF eles mudaram de ideia.
Muitos bezerros que acabaram de nascer são filhos de vacas inseminadas com a técnica da IATF. Eles receberam sêmen no mesmo dia, os nascimentos também aconteceram na mesma época. Isso padroniza os lotes e facilita o manejo na fase mais crítica da criação que é a da maternidade, como explica o médico veterinário Gustavo Ribeiro. “Eu consigo aumentar o número de fregueses das minhas vacas, as vacas vão parir mais cedo, vou padronizar o nível dos bezerros porque são filhos de poucos touros. Vão nascer muitos bezerros juntos. Para nós foi uma revolução e não tem mais como ficar sem o emprego da IATF”.
Na aplicação da IATF em gado de corte, a técnica é a mesma utilizada no gado de leite, o dispositivo e os hormônios também são iguais. O manejo e a época de fazer a aplicação é que mudam de acordo com o rebanho e o local onde é feita a criação. Em Mato Grosso, 35 dias após o parto, as vacas vão para o curral para receber os hormônios.
O serviço começa com a apartação dos bezerros. Depois, as vacas vão para o brete. Aí, é preciso observar o estado dos animais antes da aplicação da IATF. Vacas muito magras ou muito gordas não vão responder direito ao uso da técnica.
As que estão aptas recebem a primeira dose de hormônio injetável e depois são contidas para a colocação do dispositivo da IATF.
Feitos os tratamentos com hormônio, as vacas são liberadas para pastar, mas o lote tem que permanecer junto no mesmo piquete. Doze dias depois, todas voltam para o curral para a retirada do dispositivo e receber o sêmen.
Este é o principal investimento da fazenda, o treinamento do pessoal para que o índice de acerto na inseminação seja o mais alto possível. E tudo tem que ser acompanhado pelos veterinários.
Antes da técnica da IATF, a fazenda Jaraguá inseminava no máximo 40 vacas por dia. Agora, eles inseminam até 600 animais num só dia.
É um caminho sem volta, quem começa usando a IATF não volta mais. Ela é imprescindível hoje na pecuária de corte. O problema de estoque de sêmen já acontece porque a IATF está sendo implantada em massa. É preciso se preparar para ter sêmen suficiente.
Inseminadas, todas as vacas vão para o pasto. Noventa dias depois, elas voltam novamente para fazer o exame de ultrasom, que vai confirmar a prenhes ou não.
As vacas que estão prenhes confirmadas pelos exames têm seus números anotados em um papel. Depois, o pessoal corta a crina da ponta do rabo para facilitar a visualização delas no meio do pasto.
Os animais que não confirmaram, vão começar o protocolo da IATF do zero. O cruzamento com o touro só é feito se a segunda prenhes não for confirmada.
Hoje, 75% das vacas da fazenda Jaraguá passam pela inseminação artificial via IATF. O custo total do manejo com a IATF é de R$ 80 por cabeça.
Ayrton Leopoldino Neto, um dos donos da fazenda, mostrou o resultado da aplicação da técnica: bezerros filhos de vacas nelore que receberam sêmen de touros da raça aberdim angus.
Segundo ele, esta é a principal vantagem da IATF, a melhoria dos animais através do cruzamento com raças diferentes. “Esse lote com certeza vai ganhar peso muito mais rápido, sem a inseminação não conseguimos isso. Os machos a gente vende por mais de R$ 800 cada um e as fêmeas por R$ 600. Isso paga o manejo da IATF e ainda sobra. O lucro vem muito rápido”.
Com a segurança de que a inseminação vai ser bem sucedida, tanto os criadores de gado de corte como os de leite podem investir mais na compra do sêmen. Isso possibilita, por exemplo, o uso de novas tecnologias como a do sêmen sexado, aquele que permite escolher o sexo dos animais que vão nascer.
No caso da criação de gado de corte, o produtor deseja ter o maior número possível de machos porque ganham peso mais depressa. Para os produtores de leite, só as fêmeas interessam.
Hoje esta tecnologia já está disponível no mercado brasileiro. Para ver como se produz este tipo de sêmen, o Globo Rural saiu de Mato Grosso e voltou para São Paulo. Em Sertãozinho, funciona um dos maiores laboratórios de sêmen sexado do Brasil.
O sêmen que está sendo coletado de um touro holandês raça produtora de leite vai passar pelo processo de sexagem com o objetivo de priorizar o nascimento de fêmeas.
A grosso modo, uma máquina sofisticada funciona como uma balança que vai separando os espermatozóides mais pesados, que são justamente aqueles que vão gerar animais do sexo feminino.
O médico veterinário Péricles Lacerda confirma o nascimento de 85% de fêmeas, mas diz que o sêmen sexado ainda é muito caro, por isso eles só utilizam em fêmeas de primeira cria que são mais férteis. ”É uma tecnologia bastante interessante, principalmente no sistema de produção de leite porque a gente reduz o custo da bezerra nascida, que é um custo alto”.
Fazendo inseminação artificial em tempo fixo, com touros de primeira linha, e escolhendo o sexo dos animais é tudo que os produtores precisam para aumentar a genética dos seus rebanhos e a produção de carne e leite.
O índice de prenhês das vacas inseminadas com a IATF, na primeira aplicação, varia de 40 a 50%. Todo esse manejo deve ser supervisionado por um médico veterinário. Isso vale para a produção de leite e carne
Fonte: Globo Rural
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