É possível reduzir a dor e o estresse durante o procedimento de descorna?
De maneira geral, os animais de fazendas leiteiras são descornados com o objetivo de ser evitar acidentes, principalmente com tratadores, além de lesões a outros animais, numa eventual disputa no rebanho.
Assim, para se evitar o seu crescimento, os chifres e o tecido circundante são retirados utilizando-se uma variedade de métodos, como a cauterização por calor ou química e a cirurgia. Recomenda-se que a descorna seja feita quando a bezerra tenha idade inferior a 3 meses, devido a mais rápida cicatrização. Entretanto, o procedimento deve ser evitado durante as semanas anteriores e posteriores ao desaleitamento, período de intensas alterações na rotina de vida do animal. A recomendação de descorna antes dos 3 meses de idade é importante porque, após este período, com o desenvolvimento dos chifres, haverá necessidade da remoção cirúrgica, um processo bem mais trabalhoso e doloroso ao animal.
A escolha do método depende em grande parte da experiência e preferência do produtor, entretanto, a utilização do ferro quente e a cauterização química são os métodos mais utilizados. A prática de campo mostra que quando se opta pela utilização do ferro quente, é necessário maior atenção e trabalho, principalmente devido à necessidade de contenção do animal durante o procedimento, além da dor pós-operatória durante as horas seguintes e problemas com inflamações em situações de procedimento realizado de forma inadequada.
Atualmente, é crescente o apelo da sociedade em relação às práticas de manejo visando o bem-estar animal. Assim, estudos têm mostrado que a administração de uma combinação de anestésico local e drogas anti-inflamatórias podem reduzir a dor e o sofrimento associado ao procedimento de descorna. A administração de um anestésico local pode reduzir os comportamentos associados com a imediata resposta à dor (por exemplo, abanar a cauda, movimentos de sacudir a cabeça, coices) e os indicativos de dor pós-operatória (esfregar a cabeça insistentemente, sacudir a cabeça e orelha, além de apatia).
Embora seja bem estabelecido que os anestésicos locais sejam eficazes na redução da resposta à dor imediata após a descorna, seu uso na maioria das vezes parece ser insuficiente por duas razoes principais. A primeira delas é que as bezerras respondem à dor não só devido ao procedimento de descorna, mas, principalmente, pelo estresse devido à necessidade de contenção. Um segundo aspecto negativo é que o anestésico não fornece alívio adequado da dor pós-operatória. Por isso, após cerca de 2 ou 3 horas da administração, os animais começam a sentir dor local.
Entretanto, poucos estudos com a administração da pasta cáustica foram desenvolvidos. Um destes estudos mostrou que o comportamento relacionado à dor nos animais com a utilização da pasta cáustica é bastante semelhante ao método com o ferro quente (Morisse et al., 1995).
Com base nestes questionamentos, uma equipe liderada pelo professor D.M. Weary (Vickers et al., 2005) desenvolveu um estudo bastante interessante, com o objetivo de avaliar os efeitos do método de descorna (ferro quente ou pasta caustica) no comportamento de bezerras leiteiras no pré e pós procedimento.
O estudo avaliou 36 bezerras, criadas de maneira semelhante, alimentadas com sucedâneo comercial 2 vezes ao dia (5% do PV), com livre acesso a água e concentrado inicial.
Em seguida, os animais foram divididos em 4 grupos, de acordo com um tratamento testado, em 2 experimentos distintos, e o comportamento de cada grupo foi avaliado nas 12 horas seguintes, após a descorna:
Experimento 1:
1) Pasta cáustica + sedativo + anestésico local;
2) Pasta cáustica + sedativo (sem anestésico local).
Experimento 2:
1) Ferro quente + anestésico local
2) Pasta cáustica + anestésico local
Os resultados do experimento 1 mostraram que os animais tratados somente com sedativo apresentaram pouca inquietação e comportamento típico de dor durante as 4 horas após a aplicação da pasta. Entretanto, os animais tratados com sedativo e anestésico local apresentaram intenso comportamento relacionado à dor, exatamente no período entre 1 e 4 horas após a descorna, quando o efeito anestésico da medicação começava a perder efeito (Figura 1).
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Figura 1. Comportamento de bezerras (número de vezes por hora, realizando atividade relacionada à dor) descornadas com a utilização de pasta cáustica, com ou sem a administração de sedativo.
No experimento 2, as resposta foram semelhantes, em relação ao tempo de respostas de dor, que foram mais frequentes entre 1 e 4 horas após a descorna. Neste experimento, observou-se que os animais descornados com a utilização do ferro quente apresentaram, nas primeiras horas, maior inquietação, com maiores transições entre a posição deitado e em pé neste período e comportamento de balançar a cabeça. Porém, em relação ao comportamento de esfregar (coçar) a cabeça, não foram observadas diferenças entre os animais tratados com o ferro quente ou com a pasta cáustica, embora ambos apresentassem este comportamento (Figura 2).
Figura 2. Comportamento de bezerros (número de vezes realizando atividade relacionada à dor) descornados com a utilização de ferro quente ou pasta cáustica, com a administração de sedativo.
Em resumo, os resultados destes experimentos mostram que, em relação à resposta à dor, a utilização da pasta cáustica ou do ferro quente apresenta respostas semelhantes.
Outro resultado interessante é em relação à administração do anestésico local com o objetivo de diminuir a dor do procedimento. Neste trabalho, ficou evidente que a aplicação do anestésico, conforme previsto, não resultou em alívio da dor, principalmente nas primeiras horas após a descorna. Com base nos resultados deste trabalho, podemos concluir que a administração de sedativo parece resultar em melhor conforto e reduzir o estresse do animal no momento da descorna. Por outro lado, embora os resultados sejam positivos, sua utilização necessita de acompanhamento de um veterinário, para assim evitar problemas decorrentes da sua utilização incorreta
Assim, para se evitar o seu crescimento, os chifres e o tecido circundante são retirados utilizando-se uma variedade de métodos, como a cauterização por calor ou química e a cirurgia. Recomenda-se que a descorna seja feita quando a bezerra tenha idade inferior a 3 meses, devido a mais rápida cicatrização. Entretanto, o procedimento deve ser evitado durante as semanas anteriores e posteriores ao desaleitamento, período de intensas alterações na rotina de vida do animal. A recomendação de descorna antes dos 3 meses de idade é importante porque, após este período, com o desenvolvimento dos chifres, haverá necessidade da remoção cirúrgica, um processo bem mais trabalhoso e doloroso ao animal.
A escolha do método depende em grande parte da experiência e preferência do produtor, entretanto, a utilização do ferro quente e a cauterização química são os métodos mais utilizados. A prática de campo mostra que quando se opta pela utilização do ferro quente, é necessário maior atenção e trabalho, principalmente devido à necessidade de contenção do animal durante o procedimento, além da dor pós-operatória durante as horas seguintes e problemas com inflamações em situações de procedimento realizado de forma inadequada.
Atualmente, é crescente o apelo da sociedade em relação às práticas de manejo visando o bem-estar animal. Assim, estudos têm mostrado que a administração de uma combinação de anestésico local e drogas anti-inflamatórias podem reduzir a dor e o sofrimento associado ao procedimento de descorna. A administração de um anestésico local pode reduzir os comportamentos associados com a imediata resposta à dor (por exemplo, abanar a cauda, movimentos de sacudir a cabeça, coices) e os indicativos de dor pós-operatória (esfregar a cabeça insistentemente, sacudir a cabeça e orelha, além de apatia).
Embora seja bem estabelecido que os anestésicos locais sejam eficazes na redução da resposta à dor imediata após a descorna, seu uso na maioria das vezes parece ser insuficiente por duas razoes principais. A primeira delas é que as bezerras respondem à dor não só devido ao procedimento de descorna, mas, principalmente, pelo estresse devido à necessidade de contenção. Um segundo aspecto negativo é que o anestésico não fornece alívio adequado da dor pós-operatória. Por isso, após cerca de 2 ou 3 horas da administração, os animais começam a sentir dor local.
Entretanto, poucos estudos com a administração da pasta cáustica foram desenvolvidos. Um destes estudos mostrou que o comportamento relacionado à dor nos animais com a utilização da pasta cáustica é bastante semelhante ao método com o ferro quente (Morisse et al., 1995).
Com base nestes questionamentos, uma equipe liderada pelo professor D.M. Weary (Vickers et al., 2005) desenvolveu um estudo bastante interessante, com o objetivo de avaliar os efeitos do método de descorna (ferro quente ou pasta caustica) no comportamento de bezerras leiteiras no pré e pós procedimento.
O estudo avaliou 36 bezerras, criadas de maneira semelhante, alimentadas com sucedâneo comercial 2 vezes ao dia (5% do PV), com livre acesso a água e concentrado inicial.
Em seguida, os animais foram divididos em 4 grupos, de acordo com um tratamento testado, em 2 experimentos distintos, e o comportamento de cada grupo foi avaliado nas 12 horas seguintes, após a descorna:
Experimento 1:
1) Pasta cáustica + sedativo + anestésico local;
2) Pasta cáustica + sedativo (sem anestésico local).
Experimento 2:
1) Ferro quente + anestésico local
2) Pasta cáustica + anestésico local
Os resultados do experimento 1 mostraram que os animais tratados somente com sedativo apresentaram pouca inquietação e comportamento típico de dor durante as 4 horas após a aplicação da pasta. Entretanto, os animais tratados com sedativo e anestésico local apresentaram intenso comportamento relacionado à dor, exatamente no período entre 1 e 4 horas após a descorna, quando o efeito anestésico da medicação começava a perder efeito (Figura 1).
Figura 1. Comportamento de bezerras (número de vezes por hora, realizando atividade relacionada à dor) descornadas com a utilização de pasta cáustica, com ou sem a administração de sedativo.
No experimento 2, as resposta foram semelhantes, em relação ao tempo de respostas de dor, que foram mais frequentes entre 1 e 4 horas após a descorna. Neste experimento, observou-se que os animais descornados com a utilização do ferro quente apresentaram, nas primeiras horas, maior inquietação, com maiores transições entre a posição deitado e em pé neste período e comportamento de balançar a cabeça. Porém, em relação ao comportamento de esfregar (coçar) a cabeça, não foram observadas diferenças entre os animais tratados com o ferro quente ou com a pasta cáustica, embora ambos apresentassem este comportamento (Figura 2).
Figura 2. Comportamento de bezerros (número de vezes realizando atividade relacionada à dor) descornados com a utilização de ferro quente ou pasta cáustica, com a administração de sedativo.
Em resumo, os resultados destes experimentos mostram que, em relação à resposta à dor, a utilização da pasta cáustica ou do ferro quente apresenta respostas semelhantes.
Outro resultado interessante é em relação à administração do anestésico local com o objetivo de diminuir a dor do procedimento. Neste trabalho, ficou evidente que a aplicação do anestésico, conforme previsto, não resultou em alívio da dor, principalmente nas primeiras horas após a descorna. Com base nos resultados deste trabalho, podemos concluir que a administração de sedativo parece resultar em melhor conforto e reduzir o estresse do animal no momento da descorna. Por outro lado, embora os resultados sejam positivos, sua utilização necessita de acompanhamento de um veterinário, para assim evitar problemas decorrentes da sua utilização incorreta
Fonte: MILKPOINTY
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