Sistema Agrossilvipastoril - Uma opção de rentabilidade e sustentabilidade
Sabemos que do universo de áreas utilizadas pela agropecuária nacional temos um grande percentual de áreas degradadas ou com baixa produtividade ou que o capim está morrendo como o que tem acontecido com o Braquiarão nos estados do norte do país. Para que estas áreas voltem a produzir em níveis com rentabilidade aceitável sem que seja necessário continuar avançando sobre a floresta será necessário algum investimento em recuperação da fertilidade destas áreas. Neste momento temos a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) com ganhos múltiplos.
Para que estas áreas voltem a produzir em níveis com rentabilidade aceitável sem que seja necessário continuar avançando sobre a floresta (avançar ou não deve ser determinado pelos pesquisadores, pois sabemos que o Brasil ainda mantém intactas 69% de sua cobertura vegetal enquanto a Europa já desmatou 99,7% de sua cobertura vegetal original - O Brasil é preservador e não desmatador) será necessário algum investimento em recuperação da fertilidade destas áreas. Neste momento temos a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) com ganhos múltiplos.
Conceito
São sistemas de uso da terra e dos recursos naturais (SAFs- sistemas agroflorestais) que combinam a utilização de espécies florestais, agrícolas, e, ou, criação de animais (corte, leite, eqüinos, ovinos e caprinos), numa mesma área, de maneira simultânea e, ou, escalonada no tempo.
Fotos 1, 2, 3 e 4. Votorantin - Vazante/MG
Objetivos
1-Combinação de atividades (agrícolas, florestais e pecuárias) buscando otimização de recursos e rentabilidade por área de modo sustentável.
2-Preservação ambiental através de práticas adequadas de manejo.
3-Diversificação de atividades com intuito de amenizar riscos de mercado.
4-Aumento de produtividade devido a fatores interligados do sistema (sombra + conforto animal).
Potencial do sistema
1)Conservação de solo e água. (Sanchez, 2001)
2)Melhoria das propriedades químicas e físicas do solo. (Castro et al.,2007).
3)Aumento da atividade microbiana do solo. (Rangel, 2005).
4)Melhoria do valor nutricional da forragem produzida. (Paciullo et al., 2007).
5)Maior retenção de carbono. (Tksukamoto Filho et al., 2004).
6)Conforto térmico para os animais. (Pires et al., 2007).
7)Suplementação alimentar com arbustivas e arbóreas/forrageiras. (Rangel, 2006).
8)Diversificação de produtos comercializáveis e incremento da renda da propriedade. (Vale, 2004)
9)Pagamento por serviços ambientais. (Murgueitio, 2006).
10)Redução das emissões de GEE (gases do efeito estufa).
11)Evitar desmatamentos ilegais e queimadas.
12)Produção de madeira com conseqüente diminuição pela pressão de desmatamento das florestas e biomas naturais.
13)Buscar alternativas que possibilitem a produção animal em condições climáticas adversas.
14)Perspectivas de aumento da demanda mundial de alimentos, madeira e energia.
15)Diminuição da temperatura média (quebra ventos).
16)Melhoria na condição de preservação da fauna. (corredores ecológicos).
17)Ferramenta de marketing para o produtor (sair do estigma de desmatador para o status de reflorestador).
18)Possível adequação de questões ambientais com relação a áreas de reserva.
19)Custo relativamente baixo de implantação da floresta quando integrado na recuperação de pastos degradados através da integração com a agricultura ou simplesmente na reforma ou recuperação de pastagens degradadas.
O sistema na prática
Dependendo do grau de degradação da área podemos utilizar as seguintes alternativas:
Recuperação de pastagens com correção de solo, adubação e veda
Neste modelo deveremos implantar a floresta que deverá ficar sem a presença de animais até que as árvores dependendo da espécie atinjam um porte tal que os animais não venham a danificar as mesmas. No caso do eucalipto temos colocado animais na área com aproximadamente 12 meses de plantio dependendo do índice pluviométrico da região, do desenvolvimento da floresta e do tipo de animal (bovino ou caprino e ovino).
Neste caso como já era necessário o investimento para recuperação da área os custos de implantação da floresta serão exclusivamente os inerentes à sua implantação (controle de formigas, subssolagem, fosfatagem, plantio, adubação e tratos culturais).
Existem várias modalidades de composição de espaçamentos já determinados pela pesquisa que vão determinar tanto o custo como a produtividade do sistema.
Foto 5. Plantio de eucalipto 10 X 2 Fazenda Morada Nova - Inhaúma/MG
Recuperação de pastagens na integração com a agricultura
Neste modelo pode-se recuperar a área com plantios seqüenciais de arroz, soja e implantação da forrageira. A implantação da floresta ocorrerá no primeiro ano e após a implantação da forrageira as árvores já tem porte suficiente para receber os animais.
Pode-se também dependendo da necessidade de cada projeto e da fertilidade de solo fazer apenas um plantio de milho, por exemplo, com a implantação da forrageira na adubação de cobertura do milho. Assim a área ficará apenas 12 meses sem a entrada de animais.
Buscamos com esta metodologia que a receita de produtos agrícolas possa pagar a recuperação total ou parcial da reforma da pastagem.
Foto 6. Fazenda Mogiguaçu - Paragominas/PA. (reforma de pasto com integração lavoura pecuária.)
Vamos demonstrar através de um estudo de viabilidade econômico/financeira com horizonte de 10 anos um sistema de pecuária com implantação de eucalipto para produção de carvão com corte aos sete anos no sistema 10 x 3 (10 metros entre linhas e 3 metros entre plantas sendo 333 árvores por ha) e um sistema de pecuária tradicional.
Nesta situação partimos de uma fazenda de pecuária com pastos degradados que deveriam ser reformados para implementação do sistema de recria e engorda de bovinos. Vale ressaltar que a escolha do tipo de floresta (eucalipto, pinus, teca, mogno africano, cedro australiano, leucena como banco de proteínas, etc) deverá respeitar os parâmetros técnicos de implantação. Temos utilizado o eucalipto devido à sua grande gama de possibilidades de utilizações e por iniciar o retorno financeiro mais cedo (eucalipto é igual a bombril, tem mil e uma utilidades).
Descrição do sistema
Área total: 4666,00 ha
Área formada no inicio: 0 ha
Área de pasto formada no final do projeto: 3400 ha
Área formada de eucalipto no final do projeto: 2844 ha
Custo de formação de pastagem: R$ 974,00 / ha
Custo de formação de eucalipto 10 x 3: R$ 800,00 / ha
Observações
• O estudo acima foi realizado para uma fazenda em área de cerrado com solo de baixa fertilidade.
• As planilhas de comparação entre os dois sistemas de produção servem para mostrar a diferença de potencial entre os sistemas de produção. Os valores absolutos tenderão a mudar de acordo com cada região e sistema de produção utilizado.
Fotos 7, 8, 9 e 10. Fazenda Mogiguaçu - Paragominas PA
O tema é muito vasto e permite várias conjugações de possibilidades. Já existem na literatura e na prática vários projetos desenvolvidos. Temos vários projetos desenvolvidos e em implantação nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pará (Fazenda Mogiguaçu 1250 hectares implantados e Fazenda Santana 400 há em implantação).
Creio que a integração de atividades buscando sustentabilidade e rentabilidade é o futuro da exploração agropecuária no mundo, para alimentar de forma digna todo o contingente populacional, respeitando e preservando o planeta para as gerações futuras.
Esperamos ter contribuído um pouco para o início de uma discussão produtiva que possa divulgar um modelo extremamente promissor.
Fonte: Milk Point
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