quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PRODUÇÃO ANIMAL E HORTALIÇAS ORGÂNICAS

Sistemas Integrados de Produção Animal e de Hortaliças Orgânicas na Região Serrana do RJ

João Paulo Guimarães Soares - Pesquisador - Embrapa Agrobiologia

A maior concentração de Agricultores Familiares do Estado do Rio de Janeiro se encontra na Região Serrana. A maioria destes pratica a agricultura convencional com grande dependência de insumos industriais externos a propriedade. Esses insumos, além de caros, geram comprometimentos a saúde do homem e dos animais, assim como do solo e da água, sendo estas atividades ocorrendo justamente em área de Mata Atlântica causando grande impacto ambiental. Pelo exposto um projeto de integração de produção animal e vegetal em sistemas orgânicos de produção já se justifica , mas também há necessidade ainda de se garantir as condições mínimas para que, principalmente, os agricultores familiares, construam conhecimento em práticas e processos agroecológicos consolidando os saberes locais em conjunto dos técnicos e tornando perene o seu trabalho em sistemas de produção orgânica, agregando valor ao produto e, consequentemente, melhorando a renda familiar. A

A introdução de animais como parte integrada dos agroecossistemas tropicais é considerada essencial como prática agroecológica visando a transição para sistemas sustentáveis, visto que seus dejetos são fontes primordiais de matéria orgânica para fertilização das áreas de lavoura e de pastagens, via compostagem, além da melhor distribuição da renda do agricultor, principalmente daqueles com culturas estacionais, onde o produto de origem animal fornece proteína de qualidade e retorno mensal durante todo o ano. Assim o objetivo deste projeto é trabalhar com processos naturais ao invés de tentar dominá-los via artifícios e por minimizar o uso de recursos naturais não renováveis; tais como, o combustível fóssil utilizado para a manufatura de fertilizantes e pesticidas. Os princípios da agroecologia aplicados aos sistemas de produção orgânica também englobam altos padrões de bem-estar animal e o melhoramento da infra-estrutura de ambiente da propriedade.

A proposta foi de integrar a criação animal nas unidades de produção agrícola orgânica de hortaliças dos cooperados da Associação de Produtores Orgânicos do Vale do Rio Preto - Horta Orgânica, utilizando práticas de bases agroecológicas. Como o projeto está em andamento, inicialmente foram introduzidos duas cabras leiteiras e 50 aves de postura para 10 agricultores no primeiro ano, depois para o restante: sendo 20 no segundo e 30 no terceiro ano, identificados conforme metodologia de construção participativa.

Serão ainda utilizadas duas unidades de produção que já adotam o manejo em bases agroecológias com o unidades de referência. A partir dessas, pretende-se introduzir o manejo nas demais unidades de produção com o objetivo de torná-las unidades de produção auto-suficientes utilizando os resultados de pesquisa em tecnologias agroecológicas desenvolvidas na Fazendinha Agroecológica do KM 47-Embrapa Agrobiologia/Solos; CTUR/UFRRJ e Pesagro-Rio.

Como resultados parciais obtidos, visto que o projeto vem sendo desenvolvido há quase dois anos sendo, porém no primeiro somente para implantação, observou-se com base na realidade local da região serrana do Rio que, a partir de simulações que a receita liquida da produção animal em transição é suficiente para cobrir todos os custos da produção vegetal com sobra de R$246,00 reais por ano que como valor bruto não é significativo. Entretanto foi constatado que houve um aumento da renda mensal do produtor rural integrado (vegetal + animal) em R$666,33 reais, representando um aumento em 43,4% sobre o valor de R$1535,00 reais mensais que eram obtidos apenas com a produção vegetal. Deve-se também ressaltar que o valor da produção vegetal é recebido no período de 8 meses, mas que no entanto deve ser utilizado em 12 meses.

Com base nestes valores embora preliminares podemos auferir que além da melhoria da renda mensal dos produtores ocorre um melhor distribuição da renda ao longo do ano que passa do valor de R$1535,00 reais para R$2201,33 reais/mês durante 12 meses.

Por outro lado, vários resultados referentes ao comportamento da família na unidade produtiva com a presença dos animais muda. A rotina diária com o manejo alimentar e de criação aproxima o jovem rural das atividades praticadas pela família estimulando o mesmo a permanecer na atividade sem tentar buscar outras atividades na cidade, assim como aumenta a presença da mulher no trabalho diário junto ao marido, principalmente pela tendência de trabalhar com bastante cuidado com os pequenos animais, representando este fato como uma valorização na sua contribuição na labuta para manutenção econômica familiar.

Enfim espera-se contribuir efetivamente no crescimento das comunidades envolvidas, sendo o resultado deste trabalho não apenas relativo a ganhos econômicos para o pequeno produtor, que é muito relevante, mais o da certeza da produção sustentável, pois abrange a preocupação ambiental promovendo em todos estes aspectos a verdadeira Inclusão Social


FONTE:EMBRAPA AGROBIOLOGIA

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